
Oi Gente!!!
Hoje, ao vir aqui escrever, estava decidida a escrever sobre o Círio de Nazareh, a Festa religiosa paraense mais linda que conheço, que acontecerá neste domingo, 11... mas ao me ligar aqui, deparei-me com as fotos da casa da Vovó, que minha tia Amélia postou no seu orkut. Me veio tanta lembrança, tanta vontade de chorar...
Está todo mundo se despedindo da casa velha da vovó...nosso terreno, há uns 60 anos ou mais de história, sendo palco de tantas brincadeiras infantis e tantas festas familiares da geração da minha mãe, nossa geração, e da geração que ainda veio... O terreno foi vendido. A sensação que dá é que agora, acabou.
Era o quintal da casa da Vovó Mirian, minha avó materna. Um terreno enorme, minado de árvores frutíferas (só fruta que eu gosto), com um "pé de Cedro" Bem no meio. Tinha a casa da vovó na frente e atrás, a primeira casa da mamãe. Era no centro da cidade, da nossa cidadezinha: Castanhal - Pará. Eu tenho recordações maravilhosas dali, da minha infância e parte da adolescência.
Quintal onde todos os primos e agregados brincavam incessantemente, com brincadeiras saudáveis e divertidas... Qual dos primos não lembra da imensa cidade de terra que construímos embaixo da mangueira??? Cada um tinha sua casa...ia da imaginação de casa um enfeitar a sua! Lembro que a minha tinha um poço de lata de óleo com um balde suspenso a uma manivela de carretel de linha. Tinha piscina e Grama (limo que a gente pegava das raízes do pé de Cedro...
Ah, Pé de Cedro. Tuas raízes enormes eram compartimentos perfeitos para as nossas casinhas...divisórias dos pequenos quartos das longas brincadeiras das nossas tardes de criança. Lembram da passarela feita nas alturas, para passar de uma árvore a outra?? Nossa casa da árvore. O que será do Pé de Cedro? Me parte o coração pensar que nunca mais volto lá.
Mangueira (de manga teteque kkkkk. Só os Conor sabem o que significa). Manga gostosa, docinha que se fartava de dar. E Dava no tempo da ameixa, pro meu problema, porque a vovó dizia que não se podia misturar essas frutas. E eu gostava tanto.
Meu avô tinha o costume de dizer que a árvore tal ,era de fulano e a tal, de ciclano...etc. Não me lembro qual era a minha, mas lembro que eu queria ser dona da goiabeira... era da Giovanna...acho que de tanto eu querer a goiabeira, essa coitada nunca deu uma goiaba boa...tinha sempre bicho!! Mas as jaqueiras davam cada jaca gostosa...eu gostava mais da jaca dura, porque quando eu comia a jaca manteiga, sempre descia escorregando um pedaço grande e eu ficava aflita entalada mesmo! A jaca dura dava pra mastigar!
Comer abricó com Açúcar... tomar o café da tarde lá na casa da vovó...
Lembro muito pouco de quando era casa da vovó. Quando eu tinha 7 anos, a minha avó morreu. Aquele terreno sempre limpo, alegre, palco de incontáveis festas familiares, mesmo sem datas comemorativas (bastavam chegar uns parentes, todo mundo tocava uma coisa e era samba e feijão a tarde toda), nunca mais foi o mesmo... Quando virou casa da Tia Regina, a gente ainda aproveitou muito... adorava tomar banho de chuva... quando a chuva estava se preparando, começavam a cair folhas... chovia primeiro folhas.
Uma vez, numa chuva temporal dessas, eu e a minha prima Tati, teimosamente fomos tomar banho, tipo que escondidas...uma brincadeira sem fim, até que o "pé de Cuia" caiu!!! A gente ficou aflita, porque essa árvore era morada-abrigo da Bruna (o quati da tia Regina), tivemos que nos entregar da molecagem, para avisar que a Bruna estava embaixo dos escombros!!!
Ah, taperebazeiro, as bananeiras das quais tirávamos as folhas dos cachos das bananas, que pareciam pedaços de Carne para o nosso açougue, das brincadeiras de taberna, embaixo do Cedro.o Pé de Laranja-da-Terra: "toma chá de casca de laranja da terra, menina... " blergh
Depois que a Tia Regina saiu de lá...a velha casa virou escola. Escola professora Miriam Conor, de propriedade da minha tia Amélia... tantas outras crianças foram alfabetizadas ali. Tantas outras crianças tiveram a honra de brincar ali. Por fim, a época da escola também passou.
Depois dessa época...ainda tentamos fazer muitas festas em Família lá. Acho que a melhor de todas foi a festa dos 50 anos da Tia Amélia. Acho que foi a última vez que esse lado da família se Reuniu realmente em Festa lá. Pelo menos com minha presença. Nós já morávamos em Belém. Era um tempo de vacas gordas ainda. Acho que neste mesmo ano, reunimos todo mundo lá num Natal. De lá pra cá a vida correu mal pra muitos de nós. O terreno, mesmo sendo cuidado, não era mais o mesmo...não tinha a mesma vida. Atualmente, moram lá o Tio Conor e o tio Mirandinha.
Tantas lembranças boas de coisas que ali vivemos... tantas coisas más que também ali aconteceram... A sensação que tenho é que agora isso acabou. Tutto finito!
Acredito muito em uma coisa que sempre tive comigo, mas que agora quero falar. Acho que depois dessa venda, todos os nossos fantasmas serão exorcisados. E finalmente a "alma" do "Antônio Miranda" descansará em paz. A coincidência do Nome Antônio Miranda, pode arrepiar quem conhece a História e de repente se toca disso (Conto essa História, prometo). Mas Fato é: Dona Miriam, Seu Miranda e Antônio, agora descansarão em paz.
Desculpem este final sombrio...
Mas as lembranças tomam conta da minha memória e a Saudade assola meu peito... De repente lembrei que não vou mais ter a chance de voltar à sombra da Mangueia, ou me encostar no pé de Cedro...!
Mas a memória é viva, e sou feliz por ter sido Feliz assim quando criança, na Casa da Vovó.
Esta Venda aconteceu perto do Círio. Peço a Proteção da Minha Naza, para que todos consigam organizar suas vidas a partir de Agora. E que não nos distanciemos, por já não termos este mesmo Chão. Lembrarmos que fomos muito felizes lá.
Beijos em todos
Que Deus permita que eu nunca esqueça de quanto fui Feliz ali.
Marcela
PS: Foto das Primas à sombra da Mangueira 1998.
PS:os meus quintais da infância foram enormes... minha avó paterna morava em um Sítio, com tantas árvores frutíferas também... mas é outra história!